Gilles – O Expert em Fracassos; by Lucas Sena
I
O jumento é um animal curioso. Em certos momentos, depois de muito trabalhar, ele simplesmente desiste de andar. O dono grita, esperneia espera, adula, dá comida, dá água, até mesmo bate, mas o burro não sai do lugar, fica ali, estagnado. Ele simplesmente está farto do trabalho feito.
Essa história ilustra bem certas pessoas que não conseguem sair do lugar intelectualmente, aquelas que, por exemplo,estão estagnadas profissionalmente em algum ponto de suas vidas pelos mais diversos motivos. Em alguns casos a razão é falta de conhecimento, em outros a falta é de oportunidades.
E existem também aquelas pessoas que possuem todo o conhecimento do mundo, que são apresentadas às mais diversas oportunidades, estão “com a faca e o queijo na mão” e mesmo assim não conseguem “sair do lugar”. Estas pessoas sofrem de um problema, chamado estagnação cognitiva, que tem como seu núcleo a incapacidade de conseguir adaptar-se aos aspectos complementares à uma determinada situação. Certas pessoas, quanto mais elas aprendem, menos elas sabem. Gilles, filho do velho Marco era um desses casos.
O velho tinha seu próprio negócio, era um dono de uma empresa que fazia clips de papel, é, aqueles mesmos que estão jogados lá na sua mesa do escritório, ou na de casa, ou nas duas. Ele não tirava nenhuma felicidade deste trabalho, todo dia chegava em casa frustrado.
Mas o velho continuava trabalhando, afinal, o negócio trazia à sua família mais que a simples subsistência. Mas ele não queria que o filho tivesse de trabalhar na mesma área dele. Para isso, mandou Gilles para escolas particulares e ainda o enviou a Oxford, para ganhar uma “atmosfera”, como ele dizia, ou seja, teve a melhor educação que o dinheiro poderia comprar. Teoricamente, ele estaria tão preparado para os desafios da vida profissional quanto qualquer outro.
Na faculdade Gilles estudou de tudo, história, filosofia, matemática, geografia, línguas, e tudo mais que se pudesse fazer, Gilles fez. Até mesmo viajar pela Europa, após o término dos estudos, ele pôde fazer.
Quando toda essa aventura de Gilles acabou o velho já tinha ido embora, e, com isso, toda aquela estabilidade financeira que deu a ele tantas oportunidades. Não sobrou muito na velha empresa que desse para ele fazer algo, além do mais, não era esse o objetivo do velho quando mandou Gilles ir estudar. O garoto não tinha muita aptidão para trabalhar em uma industria, então ele veio a mim, sabendo do meu apreço pelo seu pai, e pediu para que eu o conseguisse um emprego. Minha primeira ação foi tentar arrumar um trabalho que se adequasse aos seus conhecimentos e, como ele tinha estudado inúmeros assuntos parecia que essa missão seria fácil.
Falei com James, executivo do Banco da cidade, e pedi uma oportunidade ao garoto, mas mesmo que ele conhecesse mais sobre a história da indústria bancária do que o próprio James, e mais de economia política do que o grupo de diretores, ele não sabia diferenciar uma nota de cinco dólares emitida pelo Banco Central de uma feita no porão da esquina, começou até uma brincadeira entre seus colegas para ver quantas notas falsas conseguiriam trocar com ele antes dele perceber. A brincadeira até hoje ainda não acabou.
Como no Banco foi um fracasso, o mandei para o jornal de um amigo, afinal, alguém letrado como ele deveria saber como escrever um artigo ou outro, nem que fosse sobre o jogo de ontem. Mas mesmo que ele conhecesse seis diferentes línguas, todos os fatos sobre a região Ártica, toda a história da dança desde os tempos do velho Adão, e todos os nomes dos imperadores de Roma, ele não conseguia fazer uma história que entretece os leitores sobre geografia, religião, ou política dos dias atuais.
Então como na escrita não estava indo bem, pedi para que o colocassem na administração, afinal, o jovem conseguia provar que dois mais dois é igual a quatro por trigonometria e geometria, então seria fácil fazer alguns relatórios aqui e ali. Mas, mais uma vez, lá vem meu amigo falar como o garoto que eu tinha indicado não conseguia ter serventia alguma na empresa. Acontece que por mais que soubesse explicar a Curva de Gauss de olhos fechados, não conseguia fazer um relatório contábil que fosse simples e prático. Ao pedir que fizesse algo mais prático, Gilles ficava fechado, perdido, suado, introspectivo.
Com mais um favor desperdiçado, comecei a analisar suas qualificações: Era profundo como um grande poeta, conhecia Prufrock e todas suas interpretações, mas não conseguia fazer uma simples e vendável propaganda. Sabia milhares de doenças, e até mesmo suas formações bioquímicas que podiam fazer um homem morrer num piscar de olhos, mas não conseguia vender um plano de seguro de vida.
Depois de muito tentar, finalmente achei a profissão que pensei que fosse a ideal para Gilles, então o levei para ser professor em uma escola de ensino fundamental, lá, pensei eu, ele não precisaria fazer nada, apenas falar o que já sabia, ou até mesmo não dizer nada em sala — poderia recitar em casa o conteúdo da aula em um gravador e colocar para tocar na sala, até isso ele teria a oportunidade de fazer, caso se sentisse nervoso. Conseguiria, assim, passar para outros jovens todo o vasto conhecimento dele. Mas parece que ele tinha aprendido tanto sobre a melhor forma de ensinar e o passado, presente e futuro da pedagogia que achava ter todas as soluções para os problemas que nem a própria sabia que possuia. E, para isso, falou para o Diretor no seu primeiro dia que tudo que a escola estava fazendo até então estava completamente equivocado, o Diretor, obviamente, não gostou nada da audácia desse jovem professor que mal chegou na instituição.
Ele sabia tanto sobre línguas mortas — o que ele iria ensinar — que ele não atentou à juventude de seus alunos e às nuâncias e particularidades do ensino a jovens. Como ele não conseguia dizer para eles tudo que ele tinha para dizer no tempo de aula, ele os prendia depois da aula. Os garotos ficaram muito chateados, e começaram a falar o que estava ocorrendo para seus pais, e deles passou para o Diretor, aquele mesmo, que Gilles tinha deixado consternado, e com isso lá estava Gilles, sem emprego novamente.
A última notícia que ouvi dele é que ele estava escrevendo artigos sobre “a razão de os homens fracassarem”, e estava indo bem nisso, porque fracassar era o único assunto no qual ele era prático.
II
Gilles possui um problema, a estagnação cognitiva.
Estagnação cognitiva é o plateau que o indivíduo, ou um grupo de indivíduos se encontram e que é causado por distorções na interpretação de sua própria situação, como no caso de Gilles que não percebe onde tem de melhorar.
Segundo Sigmund Freud a consciência humana é dividida em três segmentos, o ego (consciente), o superego (pré-consciente) e o id (o inconsciente). O ego refere-se às influências exteriores, o id, ao contrário, diz respeito ao que está intrínseco ao inconsciente.
A desventura de Gilles em sua tentativa de ser um professor colegial mostra a estagnação cognitiva em todas as suas quatro fases: cegueira, ansiedade, depressão e neurose.
Antes de aparecer a oportunidade de trabalhar ministrando a matéria de línguas mortas na escola Gilles passou por vários outros empregos, sem conseguir firmar-se em um sequer. Todos esses fracassos, por mais que em profissões diversas, possuem uma origem inconsciente comum. Seu inconsciente por natureza era pré-disposto a não perceber a importância entre o conhecimento prático e o teórico. No caso de Gilles, seria a combinação entre o conhecimento das línguas e o processo de passar didaticamente esse conhecimento para seus jovens alunos. A partir dessacegueira foram-se acumulando todos os fracassos profissionais.
Suas decepções levaram Gilles a desenvolver catexias (processo de um pensamento ser vinculado a uma imagem ou situação) associando as novas oportunidades de trabalho às decepções anteriores, levando-o a segunda fase da estagnação — a ansiedade.
Freud, em sua obra “O Ego e o Id”, diz:
“O Ego é a sede real da ansiedade. Ameaçado por perigos oriundos de três direções, ele desenvolve o reflexo de fuga, retirando sua própria catexia da percepção ameaçadora ou do processo semelhante causado no id e emitindo como ansiedade.”
Este é o processo que acontece com os indivíduos impregnados por esse mal. Por algum motivo suas decepções regressas fazem que eles criem um bloqueio quanto ao que os fazem, de alguma forma, recordar situações do passado decepcionante. Na vida amorosa, em uma pessoa que sofre inúmeras decepções e passa a ficar com excessiva cautela quanto à outros potenciais parceiros, ficando cega para boas oportunidades que por ventura apareçam em sua face. Caso clássico da estagnação cognitiva, ela teria, sim, de buscar defender-se, mas deveria usar as experiências anteriores para deixá-la mais atenta à boas oportunidades, ao invés de fechar-se completamente.
“(…) a atitude do ego não é imparcial, (…) e, doravante, quer viver e ser amado.”
A estagnação cognitiva deixa o indivíduo em um plateau visual, o retendo, como o nome já diz, em um estado de estagnação, levando à sua atenção apenas às mesmas variáveis que antes à levaram ao fracasso.
O que antes poderia ser visto, agora é omitido. Acontece uma inabilidade de conseguir perceber o que poderia ter sido de grande valia. A ansiedade do fenômeno possui origem primordial nos conflitos entre o que é consciente e o que é inconsciente. Mesmo o consciente tentando superar as frustrações e seguir em frente, o inconsciente deixa o caminho para essa recuperação muito tortuoso de ser acompanhado.
“Os conflitos entre o ego (consciente) e o superego (pré-consciente), (…), em última instância refletirão o contraste entre o que é real e o que épsíquico, entre o mundo externo e o mundo interno.”
Com a piora do estado de ansiedade passa a ocorrer um sentimento de culpa, resultado dessa ferrenha disputa da qual não saem vencedores.
A partir desse estado de culpa, o enfermo passa ao 3º estágio da estagnação, a depressão. A culpa traz o pensamento de que os problemas sejam, pelo menos em parte da própria consciência, culpa própria. O segmento inconsciente que antes poderia achar que a culpa era própria, passa a trocar de “opinião”. É nessa confusão de pensamentos que o plateau atinge seu âmbito mais profundo, onde o indivíduo tem a consciência da existência de um problema mas não consegue trazer à bailha uma alternativa, uma solução, mostrando que a cegueira, a primeira fase, continua acompanhando pelas diversas fases da enfermidade.
O próximo, e último, passo é a neurose. Além de tentar defender-se daquilo que outrora trouxe dor, a individualidade ou coletividade passa a “atacar” o que, em sua concepção, é o problema. É nesse blur de sentimentos e emoções onde nada pode ser definido com exatidão que se encontrava Gilles quando falou para o diretor da escola, em seu primeiro dia, que “tudo que a escola estava fazendo até então estava completamente equivocado”. Gilles não estava simplesmente tentando altruisticamente melhorar a escola, ele estava, dentro de si, dando o último sprint de cem metros no final da maratona; estava como um animal selvagem que na floresta, acuado por aquele ser estranho e imponente de duas patas, sente-se ameaçado e não tem outra alternativa para manter seu status quo, sua existência, que não seja atacar, mesmo que, em seu inconsciente, ele preferisse continuar vagando na floresta indiferentemente como em todos os outros dias. Para Gilles, seu trabalho era sua existência, e a forma pedagógica de ensino da escola era o homem. Em sua mente, a única alternativa restante era partir para o ataque.
Uma mostra do poder que a neurose residente na estagnação cognitiva possui são os atos de suicídios em confrontos armados. Antonio, um combatente da Itália na Primeira Guerra Mundial, lutou bravamente por anos a fio, desde as primeiras batalhas em Isonzo, num confronto marcado pela crueldade da guerra de trincheiras, onde o ser humano mostrou-se em sua forma mais primitiva, cruel e sanguinária. Antonio foi espectador de todas as atrocidades possíveis, e, depois de combates por anos a fio, em um determinado dia percebeu que não dava mais viver por aquilo, que sua existência não tinha mais razão de ser. Decidiu tirar sua vida ao dia 27 de outubro, durante a batalha de Vittorio Veneto. Poucos dias depois, em 3 de novembro, o armísticio da Itália com a Áustria-Hungria foi assinado.
Antonio não conseguia enxergar, naquela altura, que a guerra estava perto de seu fim, que se ele esperasse mais um pouco teria ao menos a possibilidade de continuar em vida.
E, sob o efeito dessa cegueira, decidiu atacar o que ele via de errado, e, nesse caso, com seu ego, superego e id completamente afogados pela angústia, não conseguiu diagnosticar onde que ele teria de atuar para reparar o que o estava afligindo, e, por pensar que não teria outra alternativa, apenas restou tirar a própria vida. Pelo menos, dessa forma, Antonio conseguiu libertar-se.
A estagnação cognitiva tem como sua última consequência a morte da esperança.
A estagnação cognitiva é um problema não está apenas em individuais, e, sim, em até mesmo sociedades inteiras. Um exemplo de coletivo que sofre desta falta de visão é o sistema de seleção de executivos de grandes empresas. O mercado tenta fazer objetivamente algo que necessita de subjetividade, de uma análise mais profunda das variáveis que podem ser de maior valia a determinada função ou situação. Ao fazer a seleção de potenciais candidatos, as empresas valorizam mais candidatos com MBA’s do que alguém que passou por uma situação que muda completamente o curso de sua vida, uma life-changing experience, como um ex-combatente que foi à guerra, que viveu experiências de alta tensão e responsabilidade, ou até mesmo escolhem MBA’s ao invés de olharem para os próprios funcionários mais experientes.
São essas suas quatro fases: Cegueira, o indivíduo não consegue ver qual o problema; ansiedade, causada pelos fracassos decorrentes da cegueira, onde ocorre o plateau; depressão, onde ocorre uma confusão de pensamentos e o plateau atinge seu âmbito mais profundo; neurose, quando a pessoa tem como impulso “atacar” o problema, porém, como a sua cegueira a impede de ver qual o real problema, ela acaba tomando uma atitude equivocada.
III
Durante o percurso da vida nos encontramos em momentos dos mais variados. Nesse grande círculo que é a existência em alguns momentos estamos no ápice, em outros estamos no fundo. Com o conhecimento também acontece isso. Gilles com certeza esteve em um momento que estava mais perto da eficiência real, e de outros ele estava mais perto do ápice do conhecimento teórico.
Uma das causas da estagnação cognitiva é quando o indivíduo entra em um estágio de ápice de um dos lados da sua cognição e passa a deixar de atentar ao outro.
Não é porque a máxima eficiência real deve ser buscada que devemos ignorar todo o conhecimento agrupado por Gilles. Há uma utilidade, um “caminho” para todo o conhecimento adquirido, ou seja, existe uma função para a qual o saber pode e deve ser usado, há uma essência escondida, esta que precisa da eficiência real para ser realizada, para ser usada em toda sua plenitude e cumprir a razão pela qual ela existe.
Esse espaço entre um e outro passa a ficar demasiado grande e então chega um momento em que é preciso voltar ao outro lado da moeda, mas então está muito distante para conseguir alcançar.
Este aspecto pode ser associado a fase da cegueira. Quanto mais profundo o indivíduo se encontra em um aspecto, mais longe ele tende a estar de outro aspecto complementar. É da natureza humana olhar com mais carinho para aquilo que a convém, deixando de lado o que, naquele momento, não tem serventia.
Odiamos perder dinheiro na rua, mas adoramos achar uma nota de dez na calçada. Odeiam os corruptos, mas quantos não se aproveitariam da máquina pública, se tivesse chance? Ser favorável ao conveniente é muito fácil.
Rust era um caminheiro que transportava soja tipo exportação pela rota Cuiabá-Santos. Ele já estava no alto dos seus cinquenta anos, mas não tinha ainda condição de se aposentar, e, além do mais, gostava do seu trabalho, gostava de ver a paisagem das estradas, o ambiente mudando do laranja do cerrado para o verde escuro da mata atlântica. Porém, Rust estava envelhecendo, não tinha mais aquela disposição de ex-cabo do Exército que outrora foi, quando fazia três mil e duzentos metros de corrida em um piscar de olhos. O cansaço passou a interferir no tempo que ele precisava para dormir nas paradas de caminhoneiros na estrada, e no final sempre chegava depois dos outros motoristas. Com isso ele sofria mais pressão, ganhava menos, e passou a procurar uma alternativa.
Certo dia um “amigo” o indicou a tomar metanfetamina, segundo omuyamigo aquilo iria deixa-lo “mais ligado que rádio de preso”. E lá foi Rust, tomar o “aditivo”. Na primeira viagem funcionou, ele chegou muito rápido, e começou a pensar que aquilo poderia ser o seu elixir da juventude. Ele sabia que aquilo não era correto, que era ilícito, que o deixaria dependente e que provavelmente existem outras opções para sua situação. Mas como naquele momento o uso da droga o favorecia, ele não deixou a prudência falar, e não se importaria de ficar para sempre sempre tomando aquilo.
Ele ficou cego para as alternativas disponíveis, porque assim o era conveniente, mesmo sabendo que não era o ideal. E nessa euforia ele deixou de lado a possibilidade de adaptar-se à nova situação. Começou a drogar-se descontroladamente, até chegar um momento onde ele não via outra alternativa a não ser continuar se drogando. Para ele estava muito longe para voltar a normalidade, fazer um tratamento, adaptar-se. E nisso ele passou a tomar doses muito mais pesadas. Atualmente, Rust está parado, no cemitério de Santa Bárbara do Oeste, sua cidade natal, vítima de um acidente na Serra das Araras, perto de Resende, Rio de Janeiro.
IV
Como alguém culto, estável financeiramente, com a experiência de ter viajado pelo mundo, pôde ser um fracasso tão retumbante? O que vemos na história de Gilles é como ele tinha todo o conhecimento, mas não conseguia transformar conhecimento em algo prático, ou seja, tirar do campo teórico. Isso é algo relativamente comum nos dias atuais, tantas são as pessoas que se importam tanto em coletar uma grande quantidade de informações mas esquecem dos aspectos humanos.
Existe a necessidade de não apenas aprender, mas também de adaptar esse aprendizado para o mundo fático. Podemos, como sempre, olhar para os Gregos da antiguidade para conseguirmos explicar melhor. Eles perceberam que a chave para fugir da estagnação cognitiva é a distribuição equilibrada, e para isso cunharam um termo: eunomia, neste caso entre o conhecimento prático e teórico.
Sobre essa solução, existem escrituras, concebidas há mais de dois mil anos, feitas em lugares inóspitos como a China rural, que ajudam a entender os erros de Gilles e como combater o mal que ele sofria.
Uma dessas escrituras é o Tao Te Ching, escrita por Lao Tsé em aproximadamente 250 — 350 A.C., que inspirou milhões de pessoas desde então que inclusive formaram religiões, como o taoismo e sua influência chegou a celebridades, como, por exemplo, o lutador e filósofo Bruce Lee, criador do Jeet Kune Do.
O Tao Te Ching é uma obra que expressa em sua plenitude esses conceitos de adaptação, da complementação que deve haver entre os “dois lados da moeda”, do Yin-yang, como mostra esse fragmento, no capítulo 2º:
Ao favorecer um lado, o outro é prejudicado — não há ascensão do yin, sem detrimento ao yang — equilíbrio é fundamental para o objetivo final: a maioreficiência real em uma situação que se propõe a realizar.
Do que adiantava Gilles saber todas as línguas mortas, se não tinha capacidade para transmitir seus conhecimentos em aula?
(…)levei para ser professor em uma escola de ensino fundamental, lá, pensei eu, ele não precisaria fazer nada, apenas falar o que já sabia, ou até mesmo não dizer nada em sala — poderia recitar em casa o conteúdo da aula em um gravador e colocar para tocar na sala, até isso ele teria a oportunidade de fazer, caso se sentisse nervoso. Conseguiria, assim, passar para outros jovens todo o vasto conhecimento dele. Mas parece que ele tinha aprendido tanto sobre a melhor forma de ensinar e o passado, presente e futuro da pedagogia que achava ter todas as soluções para os problemas que nem a própria sabia que possuia. E, para isso, falou para o Diretor no seu primeiro dia que tudo que a escola estava fazendo até então estava completamente equivocado, o Diretor, obviamente, não gostou nada da audácia desse jovem professor que mal chegou na instituição
Neste caso, o erro de Gilles foi a arrogância, causada pela ansiedade, a pressa em mostrar seu valor. Mais uma vez, ao ler Tao Te Ching, podemos perceber como ele poderia ter lidado melhor com isso:
Tivesse ele eliminado o excesso de vontade de provar seu conhecimento, essa necessidade de se provar superior (causada por ter falhado tanto antes, mas pensar que não tinha sido culpa sua, pois tinha todo o conhecimento), agravada pela ansiedade da estagnação cognitiva, não teria irritado o seu próprio empregador.
E Bruce Lee completa:
“Esvazie sua mente, não tenha forma, como a água. Se você colocar água em um copo, ela vira o copo; quando é colocada em uma bacia, ela vira a bacia. Seja água, meu amigo”